sexta-feira, janeiro 30, 2009

Sai à sexta... como os mercadillos!

As sextas feiras são dias mais alegres nas ruas e nas praças de Barcelona. Tal como este blogue, os mercadillos saem à rua à sexta-feira, e aí se quedam até ao domingo à tarde!

Aparecem em todos os bairros: na praça Bonanova, que vocês já conhecem, instalam-se umas barraquinhas a vender enchidos, pão caseiro e compotas artesanais. Na Plaça de Trilla, bem perto da rua de Astúrias, que vocês também já conhecem, instala-se um senhor numa confortável cadeira de praia, com um jornal e uma telefonia, à espera de cliente para os diferente produtos apícolas que tem expostos, mel disto e daqui, propolis, cera de abelhas, etc... Na Plaça del Pi, que vocês ainda não conhecem, mas deve faltar pouco, uma associaciação de camponeses monta diferentes paradas de produtos da terra: mais enchidos, muitos queijos, caramelos de eucalipto, ervas para infusões, etc. No final da Rambla, a própria, da qual ainda não falei mas da qual já devem ter ouvido dizer coisas, instalam-se duas longas filas de produtos de artesanato, autóctono e de importação asiática: espelhos, cinzeirinhos, jogos de tabuleiro, écharpes de fibras indianas, mobiles, dream-catchers, peças inúteis de cerâmica, eu sei lá! Na Rambla do Raval, mais modernaça esta, os novos criadores de rua, debaixo das suas tendas brancas e quadradas, expõem os acessórios de moda e as peças de roupa mais exóticas e comtemporâneas, pró menino e prá menina dos dias de hoje... e para fazer uma pausa, há uma jaima montada, com os seus tapetes e banquinhos e mesas/tabuleiro de cobre onde pousar um cházinho de menta servido em copo de plástico branco a acompanhar uns pastelitos de pistacho... tão bons!

Ainda que os costumes tenham mudado tanto no velho continente, em Barcelona continuam-se a preservar estas pequenas celebrações do comércio tradicional nas praças da cidade... para deleite do paladar, da visão e da imaginação do peão. O que eu não dava para retroceder uns séculos e sentir o barulho de um mercado de praça a sério, com cavalos e burros e carroças, o cheiro a bosta e vísceras de animal, e os calos das mãos daquela aldeã de grandes saias e pequenas blusas...

É que tal como estão as minhas economias depois da neve, dava-me jeito trocar umas barras de sabão por uma galinha!


A semana que vem: logo se vê...

artesãos Artesans de Grácia
agricultores Unió de Pagesos de Catalunya
mercadillos Mercados e Feiras

domingo, janeiro 25, 2009

As fronteiras da Catalunya

Em casa de uns amigos de Mataró suspenso de uma parede está um mapa da Catalunha, à escala 1:350, com relevo de altitude. Nunca tinha olhado com tanto detalhe para aquele mapa como na sexta-feira à noite; já o tinha mirado um par de vezes em ocasiões anteriores, mas os últimos quatro dias de "excesso" de montanha, com tamanho "excesso" de neve (uma chatice!!!) entre outros excessos individuais e colectivos, ora no esqui ou fora dele, fez-me estar de ar contemplativo de cara à parede uma boa meia-horinha antes de me ter decidido ir deitar e pegar no lápis e neste caderno.

A Comunidade Autónoma da Catalunha faz fronteira com as outras comunidades de Aragão e do País Valenciano, e com os estados Andorrano e Francês. Estas barreiras políticas estão gravemente inspiradas, se é que não determinadas, por outras barreiras de natureza mais física. É liquida a barreira que separa, e une, a Catalunha a Aragão; chama-se La Noguera Ribagorçana. A barreira que separa a Catalunha de França, mais sólida esta, é uma extensa cordilheira que vem já desde o Golfo de Biscaia, no pais basco, até ao Cap de Creus: ponto mais oriental da península ibérica. Aparece pois no meio de tanta montanha uma espécie de pais chamado Andorra, que por sua vez se encontra separado e unido à Catalunha de forma líquida e sinuosa pelos caminhos do rio Segre. Segre este ao qual aflui a tal Nogueira de antes e uma outra, a Noguera Pallaresa, e que acaba por se juntar ao grande rio espanhol, o Ebro: o mais caudaloso da península, segundo em tamanho depois do Tejo, que dividimos e partilhamos portugueses e espanhóis. E é este caudaloso e líquido Ebro que separa, e une, a Catalunha de Valência e que acaba na última fronteira da Catalunha, que a separa, e une, ao resto do mundo: o Mediterrâneo.

Há uma canção que eu cantava num coro em criança, inspirada nas palavras de um cosmonauta russo, ao qual lhe impressionava ver que do espaço a terra parecia não ter fronteiras. As palavras simples desse poema falavam das diferenças que existem entre a natureza e as suas barreiras, e as fronteiras territoriais que a raça humana foi inventando. Grandes diferenças entre as duas coisas pese a próximidade geográfica...

Aquilo que mais me impressiona na história da humanidade foram as formas que o homem magicou ao longo dos séculos para superar estas barreiras físicas da natureza e transformá-las em pontos de união entre gentes de diferentes lugares, de diferentes culturas, cores e hábitos; e as coisas que estes forasteiros de mente e espírito aberto sorveram de essas gentes de todos os lados, homens livres de todo o mundo; livres na ignorância e nas ganas de descobrir: iguaizinhos uns e outros, forasteiros e nativos.

Nadámos; inventámos pranchas, canoas e barcos... descobrimos outras terras e outras gentes mar adentro. Subimos montanhas; inventámos raquetes de neve, skis e trenós... e descobrimos que a erva (nem sempre) é mais verde no outro lado da montanha. Saltámos; inventámos planadores, pára-quedas e aviões... descobrimos o livres que somos mais perto dos pássaros. Mergulhámos; inventámos escafandros, garrafas de oxigénio e submarinos... e descobrimos a paz dos peixes no universo submerso das cores, de onde saímos todos os animalinhos terrestes há milhões de anos. Evolution! Revolution!

É por isto que me custa, numa terra catalã tão bonita como é Berga, ouvir a fina-flor do independentismo autóctono gritar vezes sem conta "Visca la terra. Lliure!". A terra é livre, caros amigos, desde sempre; e livres hão de ser os homens que nela habitam. Eu sou, livre! Livre para ir da minha terra à dos outros e descobrir lugares e gente que me fazem sentir como em casa. Levo para dar aos outros aquilo que a "minha" terra, a minha família e as minhas relações me ensinaram e que estão lá e cá, para o que as queira colher.

Visca the homem libre!


PS. Dois pedidos de desculpas... o tema acabou por não ser Andorra, apesar de ter estado quase toda a semana por aquelas terras. Desculpem também o atraso (devia ter saído à sexta) mas a verdade é que quase toda a semana a esquiar cansa um gajo... e só hoje é que deu para acabar de quadrar o que comecei na sexta. Até à próxima!

Vallnord 100 km de pistas de ski
ICC Institut Cartogràfic de Catalunya
Strange Maps mapas

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Plaça Bonanova

Audi, vroooom... Saab, vroom... Mercedes, vroo... Lexus, vrr. Na Plaça Bonanova o carro do meu papá faz menos ruido que o do teu! Na Plaza Bonanova a minha PSP tem muito melhores gráficos que a tua Nintendo DS.

Paralelogramo da zona alta, a Praça de Bonanova encontra-se cercada por 3 ruas: um Passeo com o mesmo nome, uma rua estreita a que ninguém conhece nome e a longa e vertiginosa rua de Muntaner, que tanto gozo dá descer de bicicleta. Da montanha ao centro sem pedalar! O Passeio de Bonanova, que se estende desde a praza até Pedralbes, "bairro" de banqueiros, senhores do jogo e jogadores da bola, é o corpo dessa centopeia da Barcelona alta, mas sem grandes vistas: Sarriá, St. Gervasi e El Putget.

À praça Bonanova chegam 2 autocarros articulados: o 22, que vem do centro passando por Grácia traz na bagagem a ilusão e o medo dos pais inférteis, e os carrinhos de bebés in-vitro que as clínicas da Bonanova ajudaram a parir; o 72, que vem da Zona Franca(mente mais pobre) passando por Les Corts, "Latin-Express" abarrotado de amas e empregadas domésticas, sofre pela pressa das manhãs, o aperto que os Porsche Cayenne provocam, parados em segunda fila nas ruas dos colégios... até logo filha, porta-te bem, faz o que a professora te disser, a Rosário depois vem-te buscar.

E como são 4:30 da tarde, a praça vibra da excitação dos meninos cabelos d'oiro de mão dada a senhoras morenas de rasgos índios, as colegas marronas saem das aulas juntas, collants e saia escocesa, abraçadas aos cadernos e às fotocopias, a contar as horas que faltam para entrar na faculdade e miúdas bem, com t-shirts dos Ramones, sweat's Rhino e DC Shoes, trocaram Rosário pelos amigos de ruidosos ciclomotores e brincos de brilhante quadrado, que as sobem a buscar dos colégios públicos da Barcelona de baixo p'ra fumar cigarros e trocar uns cuspes.

Os anos das nossas vidas que nos formam como pessoas podem passar completos sem sair da Bonanova. A minha faculdade é aqui, acoplada a um colégio centenário de irmãos de La Salle no qual podes entrar com apenas 2 anos. Saem daqui engenheiros, doutores e deputados autonómicos.

Afinal de contas, não são assim tão diferentes uma proveta e um canudo.


Perto da Praça de Bonanova:

Casa Pepe delicatessen

Colégio La Salle from zero ...

URL ...to hero


Na próxima semana: ¿Andorra?

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Carrer d'Astúries

A rua de Asturias é paralela ao mar, no bairro de Grácia, onde a maioria das ruas são a descer; tudo são "torrents" de alguma coisa, antigos riachos de terra, hoje caminhos de alcatrão e cloaca com casas à volta...

Assim que Asturias é ortogonal com una série de estas ruas que só descem no caminho que deixa fazer entre uma praça, a da Virreia, um sossego onde reina a pedra despida da paróquia de Sant Joan, e uma outra rua que essa sim, sobe e desce: Gran de Grácia, a veia do pescoço do bairro, com trombos de carga e descarga, patologia do foro automobilístico.

Numa ponta d'Astúries ouvem-se pássaros e o vento nas folhas, a colher a cair na taça do café, uma criança a rir... na outra, o ziguezague e os abraços à boca do metro de Fontana, nesta furia dos caminhos das pessoas a entrar, sair ou circular nessa rua maior, de passeio menor, de sétima. Dominios do motor...

Estende-se assim o Carrer das Astúrias entre a estática e dinâmica e o seu passeio, que Asturias é intermitente-mente só-para-peões, come da vida dos anhumalinhos nós a fazer de su vidinha, cá e lá, ora no eixo ora nas perpendiculares, cá menos que lá, ora lento ora depressa, já.

Porque há dos que vivem à boca do metro, entre o bulício e o claxon, e querem chegar à paz do sol na praça, e há dos parados de tão lento ir, a que um peso relativo do tempo em quilos, afastam dos caminhos do desassossego ... e há os que temos que fazer a rua toda.


Na próxima semana: Plaça Bonanova

Olokuti comércio justo
Orfeó Gracienc centro de estudos musicais
Rock 'n Roll Circus adoraçao ao couro